Dez e meia da manhã...
Ela entra na cafeteria que frequenta há anos e senta no mesmo lugar quando pode. Naquela manhã não foi diferente. Sentou-se em seu lugar cativo (como ela chamava), e em sua frente estava o seu antigo amigo Caio.
- Bom dia Caio!
- Bom dia Taciana!
- Avistei você chegando e tomei a liberdade de pedir seu cappuccino com limão Taciana.
- Obrigado meu querido. Falou ela com um sorriso mais parecido com uma tentativa frustrada de transparecer gentileza! Via-se nos seus olhos que estava pensando em algo que a preocupava.
- O que aconteceu Taciana? Algo errado no paraíso? Perguntou Caio já procurando a página do livro que estava lendo antes de Taciana chegar.
Sem relutância responde na hora com um ar de curiosidade e ao mesmo tempo incomodo!
- Vou lhe fazer uma pergunta Caio.
Mexe seu café lentamente... Toma um gole saboreando seu tradicional cappuccino com limão e:
- Você acha que o amor existe Caio?
- Ai, ai... Eu acho que existe! Já senti! Fala Caio convicto de sua resposta.
Rebatendo de imediato Taciana resmunga em baixo tom:
- Que bom... Tem gente que nunca ouviu falar.
Caio continua:
- Uma vez escutei falar que a ciência provou que Deus existe. Partindo dessa afirmação que Deus existe e não podemos vê-lo assim como o Amor, mas podemos senti-lo de alguma maneira, o amor existe ora bolas! Que coisa louca!
Lá vai para o seu gole de café olhando para Taciana que sem levantar a cabeça lendo o jornal e tomando seu café rebate!
- Se vê... Se é tocado... Existe.
Caio continua interrompendo a amiga:
- Mas nem sempre algo que existe pode ser tocado!
- Aí já é outra coisa. Não é?! Você sente fé. É o que eu acho.
Os dois ficam em silêncio lendo suas respectivas páginas, Caio movimenta-se em sua cadeira olhando para Taciana por cima do arco de seus óculos e sem se conter recomeça a conversa.
- Se você sente existe.
Afirmando com a soberania de um rei em posse da palavra de ordem em um julgamento onde estariam presentes Leonardo da Vinci e Donatelo!
Taciana com calma não esboça reação alguma e pausadamente fala:
- O que não toco, não existe para mim. Tenho fé na sua existência! Sinto! Sinto a fé. A fé de sentir e não a fé de tocar.
Mais uma pausa para o café e continua:
- Sei lá. Achismos.
Nesse momento Caio já nem pensa mais em sua leitura, seu café já acabou e sinalizou para o atendente mais uma xícara e continua quase que como defendendo uma tese em bancada:
- Mas sente?
Taciana responde:
- Sinto.
- Então existe! Fala Caio de pronto sem titubear.
- Sabe Caio eu penso assim. Quente e frio. Está-se quente: vivo se está frio morto.
- Então. Sente frio, sente quente, sente ódio, sente amor... Amor existe.
- Caio. O que eu não pego eu não sinto! O que eu vejo não me comove...
- Mas Tacian...
- Garçom um cappuccino com limão para viagem.
- Mas Taci? E o amor? E essa conversa...
- Fica para outro dia. Interrompendo Caio subitamente.
- Mas...
- Eu sinto fome Caio.
- Sente, mas pode tocar a fome? Pode saciar então ela existe!
Antes que Caio acabe sua frase ela já estava saindo da cafeteria, dando as costas em resposta a sua afirmação sem direito a réplica e comentando:
- Se arrependimento matasse.
- Então você sente arrependimento! Não é por que ele não mata que ele não e...
- Por Deus homem...
- A então está pedindo por Deus agora senhori...
- TA BOM! EXISTE! EXISTE TUDO! TUDO EXISTE!
E lá se vai Taciana arrependida de ter começado o assunto com seu amigo Caio.
- Aliás?
- Amizade existe?