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terça-feira, 29 de abril de 2014

A Retina Chora.


Por: Carlos Grison.


Os olhares andam vagos
Eu pude perceber
Quando passei pela calçada
Vendo as roupas velhas amarrotadas
Sentindo o cheiro da madeira
Se espalhando com o vento
Estalando a retina
Ferroando o peito
Esfriando a serpentina dos pensamentos
Calando-me a rouca voz
Visualizei então um quadro
De breu e naftalinas
Onde as crianças
Dançavam suas cirandas
Restando agora apenas
Mendigos gigolôs
Ali na deserta esquina
Onde os cães já não ladram
E as pessoas já não passam
Por medo da adrenalina
Que é ver o pobre coitado
Com a sua xicara de ideias vazia
Onde o cidadão que outrora era conde
Agora não passa de osso e roupas amontoadas
E de repente
Um aplauso
Juro
Escutei um aplauso
Quando me dei por conta do som
Nada pude avistar
Pelo picadeiro porco
Sujo desorganizado
Do cheiro amadeirado
Dos pobres coitados
E ali no breu da indulgencia
Bati continência para o nada
O nulo
O abstrato
Na esquina endiabrada
Onde o cara que era conde
Agora não passa de trapos
Lembranças destroçadas
Das histórias mal contadas
Do cidadão ali sentado a beira da calçada

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